Leiam, reflitam, sonhem, viajem e comentem... Os comentários são importantes para sabermos suas opiniões.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

NARCISO

Eu me contemplo em minha obra
como num espelho
a minha genialidade
eu guardo só pra mim
se cometo plágio dissimulado
ou escancarado?
assim meu mundo é reinventado
eu busco na origem e no fundo
de todo sentimento
sentido e sufocado
de todo o criado e o incriado
eu busco tudo que está abaixo
da camada superficial
o curto viver
o longo sentir
tantas palavras que ficaram
por ser ditas
tantas palavras que se perderam
nas entrelinhas

                              Sheila Camargo
                                                                                                  
                                                                                                                  

FOLHAS DE UM VELHO DIÁRIO

Cadernos secretos rabiscados
páginas selvagens digitadas
em Times New Roman
para o meu próprio deleite
poemas que nasceram
de um estado especial.

Apago os vestígios da minha passada
e o antigo elo está formado
         apresso-me,
         pois sei que é chegado
         o momento esperado
e percebo que é inútil lutar
         melhor aceitar
         e se entregar.

Sentindo na pele o frio que chega
e nele vendo um aliado.

                                 Sheila Camargo



MENINA REBELDE E ENAMORADA

Eu que nunca fui calma,
Sempre muito levada.
Eu que nunca me calei,
Nunca muito regrada.

Rebeldia não me assossega
Nos ímpetos das palavras,
Quando me coça a língua
Não meço vozes largadas

Às vezes pensam de mim,
Coisas que nem sou tanto,
Mas é só porque me rebelo
E xingo deveras ao santo.

Embora seja da terra fria,
Me rola quente pelo corpo
Um sangue vermelho queimado
Que me corre toda pelo dorso.

E se tu não te apresentas,
Logo me sobe um calor,
De ira que me faz brigar,
Por conta do meu amor.
Ruuummm!

E de tu, tomo bem conta
Por toda pequena Santiago
Sou gaúcha e tenho ajuda
Do advogado do Diabo.

Portanto, meu querido amor
Não adianta me enrolar
Com argumentos amorosos,
Pois sangue vai esquentar,
Ruuummm!

Então ande na linha como trem,
Não queiras me ver zangada,
Seja fiel e bom namorado,
E sempre terás sua amada...

Nunca dê chances ao cara do Rio
Implicar de novo com a gente,
Ele é chato e muito me aborrece
Me faz ficar de cabeça quente,
Ruuummm!

Te amo muito, tu sabes?
E dedico meu tempo a ti
Mas sinto que tu me enrolas,
Quando sai com amigos daí.

Diz que vai tomar sorvete,
Mas acaba na praça à toa.
Juntas com a turma bagunça
Depois diz que estás na boa.

Então não me enganes mais
De ti já sei tudo que faz,
Tu já estás preso a mim,
Não adianta voltar atrás

Ande como um cordeirinho,
Respeitar sempre, é favor
Isso se assim quiseres ter
Eternamente o meu amor...
Ruuummm!
 
                                                 Alexandre Taissum
                              (sobre jovem casal gaúcho Milena e Guilherme)




FLOR DE BELA COR



Uma Linda flor que se abre ao sol
E persiste colorir o jardim,
Certamente está bem nesse lugar
Onde a beleza jamais terá fim...

No canto, com encanto se mostra
Dentre muitas sem pluralidade
Sobressaindo e observada
Por toda gente do bel cidade.

E pelo contorno das pétalas
Que encantam lindos beija-flores
Atraídos já na matina,
Pelo néctar de bons sabores

Essa flor que se abre ao lindo sol,
E resiste ao vento ventena,
Sustenta-se formosa no jardim
Duma fortaleza de Iracema.

E até que a primavera volte
Esta flor no jardim colore,
Soberba se posta elegante
Para que toda gente adore

Desse canto ao horizonte do mar
Com livre vista às belas naus
Fincada embelezando esse jardim,
Lá está a flor de bela cor, Klaus
 
                                                                 Alexandre Taissum





terça-feira, 27 de dezembro de 2011

DEPOIS DA CHUVA


A todos os chamados, ignorei
e ao silêncio das bibliotecas,
por inteiro me entreguei.
e, em meio a tanta desolação,
encontrei-me com a outra parte,
com o que me tornei.

Lendo meus livros
(e sendo por eles lida)
sonhando meus sonhos
(e sendo por eles sonhada)
escrevendo minha história
 (e sendo por ela escrita)
trilhando meu caminho
(e sendo por ele trilhada)

Foi quando caiu uma chuva torrencial,
e o rio que corria em mim transbordou,
moldando uma nova paisagem,
ainda não de todo revelada.

Enquanto a chuva não parar
e o rio continuar a transbordar,
eu sinto que, de alguma forma,
tenho chances de me curar.

Há febres além do poder de cura
de qualquer remédio.
Há vícios além do poder de cura
de qualquer terapia.
Há sedes além do poder de cura
de qualquer fonte.
Há delírios além do poder de cura
de qualquer camisa de força

Esse é um deles,
este forte segredo
que deve ser guardado
a qualquer preço.

                              Sheila Camargo



DESILUSÃO

Um coração apertado e cheio de dor
Nem sempre doente com a perda de um amor
Pode estar carente de uma outra versão
De episódio mais amplo que traga emoção.

Tem amor que vai e engana com saudade
E é sempre um peso que fica de maldade
Fazendo sofrer por um tempo sem contar,
Mostrando desilusão pelo ato de amar.

Quando em fuga se diz estar desiludido,
Não querendo esquecer que foi atingido,
Sofrendo em vão por aquilo que bem pode
Servir de consolo e jamais incomode.

Mas nem sempre se tem essa força mental,
Que na briga perde em não lutar contra o mal,
Desprovendo das formas para libertar
Um coração sofredor que deixou enganar.

Então, que a dor vá, siga com quem maltratou
E deixe o vazio que não causa dissabor,
Porque a dor só sente quem não quer esquecer,
Não há dor à quem quer novo amor reviver.

Reviver a vida sem o que foi perdido
Que é bom, saudável, embora doído
E assim, estando a um passo da reconstrução,
Da base fragilizada de um coração.

                                                    Alexandre Taissum


PISTAS LUMINOSAS

No liso chão aceso em pintas luminosas,
Refletidas do alto por spots coloridos,
Espelhando vultos que trafegam horas
Em buscas dos muitos sonhos preferidos.

Sobre essa pista lisa e bem cuidada
Deslizam aos pares, pés bem calçados,
Que procuram uma entrada direcionada
Ao encontro de ledos objetos sonhados.

E na imensidão dos shoppings permeiam
Tudo aquilo que nos sonhos mais brilham,
E em particular, certa estrela passeia
De muita beleza e postura, lá vai Jocilia.

                                        Alexandre Taissum



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ASPERGER (LEVE)

Todas as minhas alegrias
são falsas alegrias
tanto a vida como a morte
me causam igual estranheza
ambas são mistérios
que me intrigam e fascinam.

Com raiva fico melhor,
nela a dor é menor
- um pouquinho de anestesia
não faz mal,
aumenta a percepção,
traz a inspiração.

- é incrível a minha falta de talento no palco da vida.

Nunca penso que alguém tenha o mérito
E as credenciais
para ler minha poesia,
por isso a protejo por detrás
dos altos muros do castelo que ergui
para que eu e ela possamos viver,
livres e isentas
dos olhares e das influências alheios.

Eu
- e minha poesia
somos como almas afins,
gostamos de manter
aquecido e reservado
o nosso castelo imaginário.

Eu, rainha do meu universo,
daria o meu próprio reino
para saber se existem outros
que se sentem como eu me sinto.


Meu mundo faz sentido para mim
Ainda que, para outros, possa não parecer.

                                                  Sheila Camargo


EU, QUE NUNCA FUI POETA...

Meus livros velados
meus sintomas velados
minhas tendências veladas
meus livros encapados
meus sintomas disfarçados
minhas tendências mascaradas

minha vida...
minha vida...
Deusa!!??
e minha vida???

                                            Sheila Camargo


O DESCANSO DO GUERREIRO

Eu me armo com as armas que tenho
à surdina,
espreito o momento
de sair para a batalha

A batalha é a da vida
não que deseje lutar
mas preciso,
ao menos,
defender-me.

Não deve haver descanso para o guerreiro
sono, sono, sono...
frescor das madrugadas
lamento ter que dizer adeus,
sonho, sonho, sonho...

                                                                         Sheila Camargo



INCÓGNITA

Tudo estava tão diferente
e eu me senti
estranhamente fora da realidade,
como se fosse repetida
a badalada de um sino
eu novamente ouvi
o crepitar das chamas
nos vales longínquos.

Quanto mais eu olhava aquele rosto,
mais perplexa eu ficava
                   olhava e,
                   parada,
                   só olhava.

         Perguntas no ar
e um brilho estranho no olhar,
um rosto lindamente triste
         na penumbra do quarto
ah, se alguém pudesse me explicar...

                                           Sheila Camargo


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

PENSANDO EM BLAVATSKY


Viver a vida na totalidade
fechar os cinco sentidos
a toda forma de realidade.

Penetrar os labirintos de Blavatsky,
percorrer suas múltiplas, infinitas salas,
mergulhar o vasto mar de Blavatsky
         absorto na Voz do Silêncio
         na Grande Noite
na Substância Primordial.

Refazer-se no Pralaya de Blavatsky
buscar sua infinidade e eternidade
                   e seguir
                   o Ser e o Não-Ser,
                   do Irreal ao Real.

As pessoas animadas pelo ideal
são capazes de a tudo resistir
no caminho ascensional.

Trilhar essa difícil Senda,
será, por certo,
uma grande bênção.
no final.

                              Sheila Camargo (alternando com Blavatsky)


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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O FRUTO DA TERRA

O dia amanhece na fria terra
Depois que cedo chega a luz
Surgente por de trás da serra
Cujo traçado dourado seduz

E por este dia que já começa
Que ainda há de secar a umidade
Orvalhada sobre solo casmurro
Que evapora com refletividade

E é nessa terra fria que advir
Depois de evaporado todo orvalho
Uma singela semente cor carmim
Brotando em solo jamais semeado

E daqui dessa terra rica de vida
Da semente surgirá fruta cuidada
Pelos ventos do sul que suaviza
Até que a colheita seja aplicada

E pra anunciar a colheita esperada
Típicos gaúchos em festa estarão
Alegres e vestindo pilcha encarnada
Sem faltar às cuias, o chimarrão

E depois como é de todo natural
Será acomodada em fase crescente
Com exagerada proteção maternal
Ao pequenino fruto piratiniense.

                              Alexandre Taissum

* Em homenagem a Mariana Menina


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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DOCE NOSTALGIA


Eu sabia que não podia,
Mas me fiz insano cada dia
E me deixei levar pela emoção
O que nada tinha de razão,
E o que só era rebeldia.

Pulei galhos secos e vencia
Tudo o que ainda não conhecia,
Nos espaços daquela imensidão
Galguei sem cautela todo chão,
Como se fosse nuvem macia.

Vivenciei um sonho por dia
Que na ante noite me consumia,
E me revelava na escuridão
Mostrando-se um tanto são,
Porém, pra vida, me iludia.

Mas achava que nunca seria
Completo se não me atrevia,
Desprezando conselhos em vão,
Traindo quem me estendia a mão
E tudo em troca do que aprendia.

O tempo passou e tudo seria
Mais uma das fases que eu vivia
Mesmo com as marcas do cinturão,
Como reforço à minha educação,
Fui feliz, moleque e merecia.

E daquela época trago alegria,
Também saudade do que fazia,
Lamento que os anos me afastarão
Daqueles dias que não voltarão
E do passado serão, doce nostalgia. 

                                                                      Alexandre Taissum



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É PROIBIDO RIR

(Que dizer de uma religião que não teve nem mesmo a capacidade de inventar os próprios mitos?)

"As antigas festas dos ciclos da natureza se chamam agora Natal e Semana Santa, e já não são homenagens aos deuses pagãos, mas solenes rituais de veneração à divindade que ocupou seus dias e se apoderou de seus símbolos.
A Festa Hilária, herdada ou inventada por Roma, saudava a chegada da primavera. A deusa Cibele se banhava no rio, convocando a chuva e a fertilidade dos campos, enquanto os romanos, vestidos com roupas extravagantes, capotavam de rir. Todos debochavam de todos, e não havia  no mundo nada ou ninguém que não fosse digno de servir de mote para rir.
Por decisão da Igreja Católica, essa festa pagã da hilaridade, que rindo celebrava a ressurreição da primavera, coincide a cada março, dia mais, dia menos, com a ressurreição de Jesus, de quem os evangelhos não registram um único riso.
E, por decisão da Igreja, o vaticano foi construído no exato lugar onde a festa da alegria culminava. Ali, na vasta praça onde ressoavam as gargalhadas da multidão, agora se ouve a voz grave do Papa recitando as páginas da Bíblia, um livro do qual ninguém nunca ri."


                           Galeano, Eduardo. 2009.
                                            Espelhos - uma história quase universal.
                                            Porto Alegre, L&PM.



 

domingo, 18 de dezembro de 2011

PENSANDO EM BLAVATSKY - PARTE II

Quando Blavatsky surgiu,
Na Aurora da diferenciação,
Tudo mudou e a grande roda girou
Os meios e os caminhos, ela me mostrou.

Tu vê e ouve,
Cheira e gosta,
Contempla...
Tu te tornaste a luz e o som,
O atributo e o movimento,
Tu és o teu mestre e o teu Deus,
Tu próprio és o objeto da tua busca...

Tua mente tranqüila,
Teu corpo agitado,
Tua alma tão límpida
Como um lago de montanha.

O silêncio da noite é vantajoso
Para o passeio das almas
Que se erguem as mansões estelares
Ou descem aos abismos infernais...
O conhecimento reside em cabeças
Com pensamentos alheios,
A sabedoria em mentes que pensam
Por si mesmas.

Milênios e milênios se passarão
Até que o homem venha a compreender sua alma.
Muito se fala e muito se imagina sobre
Estes outros mundos, ocultos, porém, permanecem...

                                           Sheila Camargo (alternando com Blavatsky)




sábado, 17 de dezembro de 2011

RAJADAS - PARTE III

Foste,
talvez sem que soubesses,
         um pedaço de estrada
         um marco,
         um complemento
         uma etapa de jornada

                   e veio,
                   de repente,
                   uma rajada

                   e veio,
de repente,
a madrugada

e trouxe uma nova rajada
e uma única voz sussurrada...

                                 Sheila Camargo





RAJADAS - PARTE II

Venha para dentro de mim
e deixe o sentimento entrar,
venha para dentro de mim
e deixe o amor penetrar
com suas fortes rajadas
         - até o final –

Vento do norte
chuva forte
e um céu tempestuoso
a se desabar

Isso era quase tudo
que eu podia desejar.

                        Sheila Camargo




A CAUSA DE UM CASO VIRTUAL

Escorregar na textura lisa da sua pele,
Sentir o calor do seu corpo e me queimar,
Segurar seus cabelos soltos encaracolados
Foi pra mim experimento único e salutar.

Sentir seu hálito próximo aos meus ouvidos,
Sem fraqueza no timbre e coragem pra falar,
Ouvir sua voz dizendo meu nome entre gemidos,
Mostrando-me o quanto me queria para amar

Sem perceber o envolvimento que me consumia
O tempo foi passando e o amor aumentando.
Não conseguia ficar sem te ver um único dia
E foram, as sessões privadas, se intensificando.

As loucuras acontecendo sob meus cegos olhos
Que mesmo alertas não conseguiam enxergar,
Os exageros que cometia insólito em meu canto
Me fazia te sentir toda, de fato, ao imaginar.

Mas um dia fui acordado pelo temor da verdade
E percebendo não existir ninguém para explicar
Todo o encanto que senti sem a fiel realidade
Me mostrou que você, virtual, me fez te amar.

Te conheci por aqui, porém sou de muito longe.
Aqui me entreguei inteiro a você, mesmo distante,
Não sabia que o sentimento seria além do virtual
E que me faria sofrer tanto assim. Dor fulminante.

Agora já curado do sentimento que me usurpou,
Vejo a vida pelos olhos que à vida me ensinou,
Sem o multicor virtual, que imaginário me enganou,
Hoje te vejo amiga, mas que antes, muito judiou.

Embora evite sua presença por meio de suas linhas,
E faça parecer uma atitude egoísta e muito radical,
Na verdade, é na fuga que esqueço que foi minha
E tento voltar à vida, longe do que me causou mal...

                                                         Alexandre Taissum


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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

POESIA DA MEIA NOITE

                                         Varo a madrugada,
errante e só,
e não posso deixar de lamentar
que, talvez,
pudesse ser diferente,
uma madrugada
com um brilho a mais,
um elemento a mais
um céu,
com uma estrela cadente a mais...

                                                                          Sheila Camargo



                               

O EQUILÍBRIO MÁGICO

Histórias da evolução
cada dia com sua beleza própria
e com sua dor própria
tudo em sua hora e lugar
         a noite
         a neblina
         sós
         fluxos e refluxos
         cúmulos- nimbos mentais

estados de espírito que me visitam
         esporadicamente
e a bruma se fez presente
toda a tarde de domingo
         seguindo a linha...

                                  Sheila Camargo


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A CONSCIÊNCIA



"Quando desciam as águas do Orinoco, as piráguas traziam os caribes com
seus machados de guerra.
Ninguém podia com os filhos do jaguar. Arrasavam as aldeias e faziam flautas
com os ossos de suas vítimas.
Não temiam ninguém. Somente lhes dava pânico um fantasma que tinha
brotado de seus próprios corações.
Ele os esperava, escondido atrás dos troncos. Ele rompia as pontes e
colocava no caminho os cipós enredados que faziam com que eles tropeçassem.
Viajava de noite; para despistá-los, pisava ao contrário. Estava no monte que se
desprendia da rocha, no lodo que afundava debaixo de seus pés, na folha da planta
venenosa e no roçar da aranha. Ele os derrubava soprando, metia-lhes a febre pela
orelha e roubava-lhes a sombra.
Não era a dor, mas doía. Não era a morte, mas matava. Se chamava Kanaima
e tinha nascido entre os vencedores para vingar os vencidos."
 
                                       Galeano, Eduardo. Memória do fogo Vol. I Os nascimentos. p. 57.


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DESENCANTO

E escutei e descobri
que não é a poesia
que vai me abrir a página de luz
nem me levar a tentar colher
a rara flor do precipício.

Tampouco será um consolo
e uma companhia
e nem sempre estará presente
nas horas de dor e desatino.

E escutei e descobri
que a pintura e a poesia
são ambas solitárias,
que é preciso moldar-se
a seu silêncio de horas caladas.

Receptivo, quieto, fechado
cavando em si a própria fonte
e nela se purificando
como em águas sagradas.


                            Sheila Camargo


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