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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É PROIBIDO RIR

(Que dizer de uma religião que não teve nem mesmo a capacidade de inventar os próprios mitos?)

"As antigas festas dos ciclos da natureza se chamam agora Natal e Semana Santa, e já não são homenagens aos deuses pagãos, mas solenes rituais de veneração à divindade que ocupou seus dias e se apoderou de seus símbolos.
A Festa Hilária, herdada ou inventada por Roma, saudava a chegada da primavera. A deusa Cibele se banhava no rio, convocando a chuva e a fertilidade dos campos, enquanto os romanos, vestidos com roupas extravagantes, capotavam de rir. Todos debochavam de todos, e não havia  no mundo nada ou ninguém que não fosse digno de servir de mote para rir.
Por decisão da Igreja Católica, essa festa pagã da hilaridade, que rindo celebrava a ressurreição da primavera, coincide a cada março, dia mais, dia menos, com a ressurreição de Jesus, de quem os evangelhos não registram um único riso.
E, por decisão da Igreja, o vaticano foi construído no exato lugar onde a festa da alegria culminava. Ali, na vasta praça onde ressoavam as gargalhadas da multidão, agora se ouve a voz grave do Papa recitando as páginas da Bíblia, um livro do qual ninguém nunca ri."


                           Galeano, Eduardo. 2009.
                                            Espelhos - uma história quase universal.
                                            Porto Alegre, L&PM.



 

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